Eu comecei o
pré-natal já passava dos 3 meses de gestação. No SUS, precisa aguardar. Estamos
lotados. Eunão tinha como aguardar. Já havia deixado que muito tempo se
passasse.
Procurei médico
particular. Não tinha plano de saúde. A agenda livre mais próxima era daquele
mesmo ginecologista-obstetra que me falou no início da gestação "é só um bebê".
Comecei pré-natal
com ele. Um tempo depois consegui a consulta pelo SUS. Mas eu não conseguia
largar do médico que comecei o
pré-natal. Agora vejo como exagero. Na época não. Eu tenho pé atrás com médico,
precisava ouvir mais de um. Não tinha como descuidar, negligenciar, correr
riscos com a gestação a partir dali. Precisava garantir que tudo corresse bem.
Talvez fosse a insegurança, reflexo do não desejo. Não sei, seu que foi assim.
Quando a casa
engravidou a primeira vez fiz algumas leituras sobre parto e cesárea. Os dois
são forma de nascimento, mas cesárea não é parto (há discordâncias, mas eu
compreendo assim). Assisti vídeos de parto humanizado, parto domiciliar, parto
natural gêmeos.
Ah, os partos
domiciliares. Eram lindos. Mas uma realidade muito distante. Imagina, eu
parindo em casa? Não, não era pra mim.
Conversei com o GO
(ginecologista obstetra) sobre parto, cesárea e valor. Fiquei escandalizada ao
descobrir que o acompanhando do trabalho de parto e parto normal era muito mais
cara do que a realização da cesárea. Como assim mais caro? Simples, se tu entrares
em trabalho de parto início da manhã eu preciso cancelar toda minha agende, até
o bebê nascer. Tu paga pelo meu tempo. A gente paga pelo tempo do médico para
que ele nos acompanhe naquilo que nosso corpo sabe fazer desde sempre. Parir!
Decidi que
continuaria com o acompanhamento do pré-natal particular (e pelo SUS também,
quanto exagero) e o parto seria pelo SUS. Olha, o hospital da ULBRA em Canos é
muito bom. E algumas outras sugestões de lugares surgiram. Não. Eu vou parir no
Hospital Centenário, quero que menino nasce em São Leopoldo. Cidadão Capilé. No
Centenário? Sim. No Centenário.
Aquele desejo de um
parto longe do hospital permanecia na minha cabeça. Sem intervenções. Cria no
colo logo depois de nascer, sem procedimentos invasivos. Mas tudo bem. Isso não
é pra mim.
Mas como eu vou
saber a hora de ir para o hospital? E se eu for muito cedo e for submetida a
uma cesárea desnecessária? E se eu sofrer violência obstétrica?
É horrível a
sensação de medo da violência obstétrica. Em uma hora tão significativa da vida
gente. Da vida da mãe que nasce, da vida da criança que nasce, a gente ter medo
de ser violentada. No início da vida, quando a gente devia ser acolhida, a mãe
e a criança que nascem, temos medo de ser violentadas. Eu tinha medo de ser
violentada. Tinha medo de ser enganada. Passada para traz. Machucada. Tinha
medo.
É triste que a via
de nascimento seja, muitas vezes, determinada por esse tipo de medo. Medo de
ser maltratada. Eu sabia da importância do trabalho de parto para a vida do
bebê, para a vida da mãe. Eu sabia de muitas coisas que nós dois ganharíamos
passando por essa experiência. Eu tinha curiosidades. Eu queria saber como era
a dor do parto. Eu queria encontrar a partolândia. Eu queria parir!
Como vou fazer? Uma
Doula! Uma Doula pode me acompanhar no início do trabalho de parto em casa.
Depois vamos para o hospital. Perto da hora de nascer. É só chegar no hospital
e pronto. Eu não lembro como cheguei até a Anita, mas cheguei. Marcamos uma conversa.
E ela ascendeu uma luzinha de possibilidade de parir em casa. Me contou dos
partos dos filhos dela. Da equipe que a acompanhou. Da possibilidade de
parcelamento no pagamento. Eu queria parir! Eu nuca gostei de hospital.
Eu já estava com 33
semanas. Menino crescia na barriga. Marquei consulta com GO do parto
humanizado. Mais um médico, um novo olhar sobre o pré-natal. E eu, ao invés de
abandonar os outros dois, continuei com os três. Que tamanha insegurança, fico
pensando agora! Que tamanho medo! Que tamanha falta de confiança, neles ou em
mim, não sei.
Contei história
inteira. Não te preocupa com isso. Muitas mulheres que fazem inseminação
artificial também se sentem inseguras quando tem a confirmação de estarem
grávidas.
O médico fez
perguntas diretas. Eu senti como se ele quisesse colocar a prova meu desejo de
parir fora do hospital. Acho que maior que o desejo de parir em casa era o de
parir longe de um hospital.
Eu queria parir.
Sentia que precisava viver aquela experiência, mas não sabia dar nome aos
sentimentos. Não sabia falar deles de coração aberto. Não sabia falar. A
garganta dava nó. O olho enchia de água.
E o parto Vanessa?
Vou parir aqui na sala dos professores. Estarei trabalhando e... Ops... Nasceu!
Brincava com as colegas. Essa louca, capaz de ganhar esse guri em casa! Eu ria
e dizia "o corpo sabe parir gurias, foi feito para isso." Eu tinha
certeza de que o corpo sabia parir.
Li muitos relatos de
parto. Assisti vídeos. Me informei sobre o que poderia dar errado em um
cesárea, quais eram as falsas indicações de cesárea. Texto da Melania Amorim falando das indicações reais e fictícias de cesáreas.
O Grupo Nascer Sorrindo, no facebook, foi outra fonte de informações muito importante. Li
fragmentos do livro Quando o corpo consente, e também do livro Entre asorelhas: histórias de parto do Ricardo Jones. Além de muitos textos em blogs e
sites espalhados pela internet. Conversei muito com uma amiga que tinha parido
em casa, dentro d'água.
O corpo sabe parir.
Eu tinha certeza disso. Mas tinha também medos. Medo daquilo que eu
desconhecia. Algumas vezes pensava se aquilo tudo daria certo. Tinha a sensação
de não me sentir merecedora daquela experiência. Não sei se a expressão é bem
essa. Mas tudo bem, o corpo sabe parir.
Não consegui
assistir ao documentário O Renascimento do Parto, nem O Parto orgásmico.
Durante alguma consulta com o Ricardo Jones (GO do parto humanizado), falando
sobre as pessoas que acompanhariam o trabalho de parto, ele comentou que o
parto era como o sexo. O que acontece se duas pessoas estão transando num
quarto escuro e alguém abre a porta e liga a luz? É o mesmo que acontece
durante o trabalho de parto!
Parto é sexo. Parto é empoderamento! Eu tinha
muita expectativa de que parir seria um ato libertador pra mim. Eu queria muito chegar na partolândia!
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